Tudo começa em guerra

Anos antes de o ser humano utilizar o telescópio para observar as estrelas e corpos celestes, eles eram utilizados para observar os movimentos de tropas inimigas em guerras. Não se sabe quem exatamente é o inventor desse revolucionário instrumento, mas o primeiro registro foi feito por Hans Lippershey, em 1608, na Holanda. Diz a lenda que Lippershey teve a ideia do primeiro telescópio depois de ver duas crianças brincando com lentes, porém, é impossível afirmar se isso é verdade ou não. Então ele começou a trabalhar. Seu primeiro modelo consistia em uma espécie de tubo com duas lentes, a frontal (também chamada de objetiva) era convexa e a outra, a de observação, era côncava. Apesar de simples, o objeto conseguia ampliar a visão em até 3 vezes. O inventor então levou sua criação para realizar o registro da patente junto ao governo holandês. Outras pessoas levaram objetos parecidos mais ou menos na mesma época, e como a invenção era, teoricamente, bem simples, o registro foi rejeitado pelo governo. Porém, Lippershey recebeu uma grande encomenda, já que naquele período a Holanda estava em guerra contra a Espanha. A luneta, como era conhecido até então o telescópio, dava uma grande vantagem durante conflitos, já que permitia que se visse muito antes a movimentação de tropas inimigas. Isso fez com que, com a licença poética da piada a seguir, a invenção corresse por todo o continente europeu como fogo em um rastilho de pólvora. Até que a informação chegou ao país do macarrão e pizza, ou seja, à Itália.

Galileo Galilei

Antes de contar qual a participação de Galileo Galilei, vamos ver sua biografia. A família de Galileo queria muito que ele se tornasse um médico, e ele inclusive foi enviado para a Universidade de Pisa, na cidade de Pisa. Mas ele sentia que aquilo não era muito a dele, ainda assim, ele se forçou a continuar. A razão pela qual ele insistia era uma só: dinheiro. Durante as aulas, eventualmente, Galilei acabava participando de algumas cadeiras de física. Quando estava quase terminando a faculdade de medicina, ele finalmente percebeu que não queria nada daquilo em sua vida, e foi falar com seu pai para mudar de curso, indo estudar matemática. Mesmo antes de mudar de curso, ele já havia inventado uma série de objetos, mas nenhum deles fez com que ganhasse alguma posição de prestígio com algum lorde. Foi então que a notícia de um objeto que ampliava o campo de visão muitas vezes chegou ao seu ouvido. E mesmo sem ter exata noção de como era a luneta holandesa, ele conseguiu recriar e melhorar o objeto. Galilei levou seu objeto para apreciação dos poderosos da cidade de Veneza, e finalmente ganhou todo o respeito que esperava e um cargo de professor. Ele passou então a dedicar a sua vida aos estudos e desenvolveu uma série de outros produtos, mas ele ousou fazer uma coisa com que até então ninguém pensara: apontou sua invenção para o céu. Essa simples ação revolucionou totalmente o campo da astronomia, que até então realizava suas observações apenas a olho nu. Em 1610, ele publicou o livro Sidereus Nuncius (Mensageiro Sideral, em tradução literal) e lá constava uma série de observações sobre a lua. Como, por exemplo, as muitas montanhas e crateras que ela possui, além de desenhos e outras informações. Conforme Galilei melhorava o telescópio, como a capacidade de aumentar em 30 vezes a visualização de qualquer objeto, ele fez uma série de outras observações sobre os planetas do Sistema Solar, como as várias luas de Júpiter, as fases de Vênus, uma vaga ideia dos Anéis de Saturno, além de realizar a primeira observação do que viria a ser conhecido como Netuno. Além disso, ele observou a Via-Láctea e começou um estudo sobre manchas solares no Sol. Em 1615 Galilei endossou a ideia do heliocentrismo, na qual a Terra e os demais planetas giram em torno do Sol, modelo desenvolvido pelo matemático Nicolau Copérnico em 1543. Isso fez com que a Igreja Católica considerasse a ideia uma completa heresia. Nos anos seguintes, ele publicou uma série de trabalhos que iam de forma contrária às ideias defendidas pela Igreja. Em 1632, ele publicou o livro Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo (Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo, em tradução literal). Isso o fez ser julgado pela Inquisição Romana, que o condenou à prisão domiciliar até o fim de sua vida, em 1942.

Outros inventores

Após o avanço de Galileo Galilei na Astronomia, uma série de outros cientistas deram contribuições para que esse campo avançasse enormemente. Um dos principais contribuintes foi Johannes Kepler, que além de ter feito uma série de melhorias nos telescópios, foi extremamente importante para o campo da ótica. Seu próprio modelo apresentava as imagens de cabeça para baixo e ele foi o primeiro a conseguir explicar como os telescópios realmente funcionavam. Outro cientista bastante importante foi Christiaan Huygens. Ele construiu um enorme telescópio, que media 3,7 metros, em 1655, o maior daquela época. Utilizando o instrumento, o cientista conseguiu fazer observações precisas de Saturno, vendo com detalhes os anéis daquele planeta. Isaac Newton estudou muito o trabalho de seus antecessores e decidiu que ao invés de lentes, seu telescópio usaria espelhos. Seu modelo usaria um espelho côncavo, utilizado para focar a luz em direção a um espelho menor, que projeta a imagem até o usuário. Esse modelo se provou extremamente bem sucedido, já que era significativamente mais barato que os anteriores, mais fácil de se construir e simples. Nos anos seguintes, pouca coisa mudou nos telescópios. A construção de telescópios gigantes começou em 1789, pelo astrônomo e músico William Herschel. Ele utilizou como base o trabalho feito por Isaac Newton, mas o aparelho não funcionou muito bem. Depois disso, outros telescópios gigantes começaram a aparecer. No estado de Wisconsin, nos Estados Unidos, o empreendedor Charles Yerkes bancou a criação do que viria a ser conhecido como o Observatório Yerkes, em 1897. O astrônomo George Ellery Hale ficou responsável pela construção do telescópio, que utilizou duas lentes com 102 centímetros de diâmetro, o que era impressionante para sua época. Dentre os cientistas que passaram pelo local, Carl Sagan é o nome de maior destaque.

O século 20 e a observação espacial

O século passado foi maculado por duas grandes guerras e outros conflitos menores que culminaram na morte de milhões de pessoas. Ainda assim, a observação espacial avançou como nunca. O telescópio a rádio foi desenvolvido por acaso. Em 1930, o engenheiro Karl Guthe Jansky, que trabalhava na Bell Telephone Laboratories, foi designado a descobrir de onde estava vindo uma fonte estática que estava interferindo com os sinais de rádio e telefone da região. Ele acabou construindo um objeto muito grande, com 30 metros de diâmetro e 6 metros de altura, que podia girar totalmente no seu próprio eixo. O telescópio conseguiu receber sinais de 20.5MHz e com os dados recolhidos, ele descobriu que a fonte da interferência vinha de fora do nosso sistema solar. Depois da Segunda Guerra Mundial, o astrônomo Sir Bernard Lovell decidiu construir um gigantesco telescópio para observar o espaço. Ele havia trabalhado para a Força Aérea Real do Reino Unido como um operador de radar, com a função de detectar aeronaves e embarcações. No condado de Cheshire, na Inglaterra, em 1957, foi inaugurado o Observatório Jodrell Bank, com um telescópio de 76 metros. Esse enorme telescópio foi fundamental para o estudo de diversos meteoros, quasares (uma espécie de fonte de rádio estelar) e muitos outros. A NASA, a Agência Aeroespacial Norte Americana, planejava desde 1946 colocar um satélite artificial no espaço, com o intuito de facilitar a observação espacial. Porém, seu lançamento só foi realizado muitos anos depois, em 1990. O telescópio possui um espelho de 2,4 metros e uma série de outros instrumentos que auxiliam em sua tarefa de captar imagens em alta definição. O Hubble já recebeu outros instrumentos, além de ter sido consertado diversas vezes.

O futuro da observação espacial

Após mais de 30 anos de ótimos serviços prestados, o telescópio Hubble receberá em breve um “substituto”. A NASA, em conjunto com ESA (European Space Agency, a Agência Espacial Europeia em tradução literal) e a CSA (Canadian Space Agency, a Agência Espacial Canadense em tradução literal), estão produzindo o James Webb Space Telescope (Telescópio Espacial James Webb, em tradução literal). O novíssimo telescópio será montado com 18 espelhos hexagonais. O material utilizado em cada um deles é uma mistura de ouro com berílio. A junção de todos criará um espelho com um diâmetro de 6,5 metros, mais do que o dobro do Hubble. De acordo com o planejamento inicial, a construção começaria em 1996 com o lançamento marcado para 2007, mas nem tudo foi como esperado. Em 2005 o projeto teve que ser totalmente redesenhado, e só então a construção começou. Desde então, diversos atrasos e problemas aconteceram, desde problemas com a proteção solar do telescópio até a atual pandemia causada pelo COVID-19. O lançamento está previsto para o dia das bruxas, ou seja, dia 31 de outubro de 2021, com um custo que já ultrapassou a casa dos US $10 bilhões de dólares. E aí, gostou da história do telescópio? Conte-nos abaixo! Fontes: Interesting Engineering, Space

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